quinta-feira, 15 de março de 2012

Encontro reúne, em Foz, artesãos brasileiros, paraguaios e argentinos


Foto: PMF
Três dias de integração, na Terra das Cataratas, proporcionaram conhecimento, experiências e emoção

“A rede de contatos que o Ñandeva estabelece é para sempre. Nos encontros que realizamos, trabalhamos muito com o humano, com o social. É muito rico estar na companhia de artesãos da Argentina, Brasil e Paraguai. Fico emocionada, em rever cada amigo que fiz durante o programa, durante essa trajetória.” A afirmação, que retrata um pouco da filosofia do Ñandeva - Programa Trinacional de Artesanato, foi feita, na semana passada, pela artesã Rossana Marisa Rinaldi, de Posadas, na Argentina, durante a programação do IX Encontro Trinacional de Artesanato Ñandeva, que aconteceu em Foz do Iguaçu, entre os dias 8 a 10 de março.

O Ñandeva promove até três encontros anuais para reunir artesãos dos três países. “Os encontros começaram em 2008 e, de lá pra cá, já ocorreram nove. Prova do sucesso do trabalho coletivo, da troca de experiências, da integração e da vontade de mostrar o Ñandeva como um marco do artesanato na fronteira”, afirmou o gerente regional do Sebrae/PR, Orestes Hotz.

“A Itaipu tem um carinho especial pelo Ñandeva, que representa a integração. É uma ferramenta que integra o Brasil, Argentina e Paraguai”, disse Jorge Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional. Samek lembrou que o Ñandeva surgiu para atender duas demandas, da riqueza do artesanato local e dos turistas. “Temos um público consumidor das peças e, para atendê-lo, era preciso oferecer produtos compatíveis com a demanda. O Ñandeva apoia os artesãos, que são peças-chave do programa.”

Para a artesã de Foz do Iguaçu, Ilza Alliana, presente no encontro trinacional, participar do Ñandeva e de eventos que unem a cultura dos países é uma experiência única. “Aqui aprendemos a compartilhar e, em troca, recebemos novas ideias. Tanto os encontros quanto o Programa Ñandeva, em si, têm acrescentado muito para nós. Pois com artesanato é assim, quando você acha que já está bom é porque ainda falta muito para melhorar. Depois que você faz 100 vezes a mesma peça, percebe o quanto as coisas pequenas, as conversas, os cursos, ajudaram a fazer sua criação evoluir”, comentou.

Ações coordenadas

O Conselho Gestor do Programa Ñandeva é formado pela Fundação Parque Tecnológico Itaipu Brasil (FPTI BR); Sebrae/PR; Fundacion Artesanias Misioneras (FAM), entidade gestora do Programa na Argentina; Universidad Nacional de Misiones (UNaM); Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu, entidade gestora no Brasil; Centro de Cultura e Tecnologia para o Artesanato (CCTA); Fundação Parque Tecnologico Itaipu Paraguai (PTI PY), entidade gestora no Paraguai; e Instituto Paraguayo de Artesanía (IPA).

Segundo a representante da FAM, Alícia Freazza, o Ñandeva passa por uma nova etapa. “Às vezes, nós não nos damos conta do quanto o Ñandeva é grande. São três países falando da importância do artesanato, que têm um mercado cada vez mais crescente. Já passamos pela etapa da capacitação, agora é hora de começar a crescer economicamente, que também faz parte do processo. Assim, poderemos nos manter apenas com aquilo que mais gostamos de fazer, que é o artesanato”, destacou.

Já a coordenadora do Programa no Paraguai, representando a PTI PY, Eva de Garcete, salientou que, com o Ñandeva, o país também vive um novo momento no setor do artesanato. “Vi nascer o Ñandeva, em 2004, apenas como um projeto. Hoje o vejo, realmente, como um programa trinacional consistente, um programa que sempre foi o que a Itaipu buscou. No Paraguai, formamos um comitê gestor em 2011 e estamos vivendo um momento muito importante para o desenvolvimento do artesanato, com a percepção de que é preciso trabalhar em equipe, mantendo uma identidade cultural própria.”

“Percebemos que, nas ações do Ñandeva, há essa harmonia entre a tríplice fronteira. Reflexo do entendimento dos artesãos e das coordenações do Programa em cada um dos países”, reforçou Orestes Hotz, do Sebrae/PR. E mais do que integração, pode-se dizer que a produção dos artesãos do Ñandeva tem identidade cultural, avaliou a coordenadora da Cooperativa de Artesãos de Foz do Iguaçu (Coart), Nilce Mognol. “Percebo que os turistas que compram nosso artesanato ficam maravilhados. Hoje, mais do que artesãos, somos empresários e não deixamos a desejar para qualquer outra empresa”, apontou.

Trabalho eternizado

O IX Encontro Trinacional de Artesanato Ñandeva, que contou com palestras aos artesãos participantes, teve, em sua abertura, dois momentos marcantes. Em um deles, o livro “O Sol é Lindeiro” foi lançado oficialmente na presença de autoridades e artesãos dos três países. A publicação, de 180 páginas, é um registro das experiências dos artesãos de oito cidades brasileiras com as chamadas Oficinas Criativas.

“Eternizamos um processo de quase dois anos de trabalho para que possa servir de exemplo e contar um pouco da história dessas cidades, por meio do artesanato local e, ainda, que a metodologia das oficinas possa ser aplicada em outras localidades”, citou a consultora do Sebrae/PR, Ana Lúcia de Sousa. Metodologia que, inclusive, foi certificada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil, entre mais de 1,1 mil projetos nacionais.

“O livro foi uma oportunidade maravilhosa de registrar nosso empenho”, disse a artesã de Medianeira, Analu Avelar. “Participar das oficinas criativas, que fazem parte das páginas desse livro, também nos fez olhar para o passado”, relatou a artesã de Santa Helena, Lídia Krahl, mencionando como os grupos, de cada cidade, buscavam a própria identidade cultural a ser repassada para as peças do artesanato local.

De acordo com Ana Lúcia de Sousa, quase todas as ações do Ñandeva são trinacionais e, algumas, assim como a publicação de “O Sol é Lindeiro”, são iniciativas nacionais, de acordo com a realidade de cada país. “Trouxemos o livro como um projeto-piloto e, agora, pode ser feito por qualquer país ou, ainda, outras cidades lindeiras ao Lago de Itaipu”, aconselhou.

Outro momento que marcou o IX Encontro Trinacional de Artesanato Ñandeva, foi o repasse da coordenação-geral do Ñandeva. Ana Cristina Nóbrega, que esteve à frente do Programa desde a sua criação, passou o comando para a colega Gorette Milioli que, até então, atuava no setor administrativo do Ñandeva. “Entrego hoje uma missão que me foi dada há anos e, com o coração em paz, pois sei que estou deixando o Programa em boas mãos”, assinalou Ana Cristina Nóbrega.

Para Gorette Milioli, passar a coordenar o Ñandeva é motivo de orgulho e satisfação. “Lembro-me de uma frase que a própria Ana Cristina nos falava nas reuniões e que se aplica muito bem agora. Temos que ver o Ñandeva como um barco, no qual todos temos que remar na mesma direção. Assim, mesmo quando um tenha que se ausentar, ainda estaremos seguindo em frente”, refletiu.

Ana Cristina Nóbrega deixa a coordenação-geral do Ñandeva para assumir a coordenação do Instituto de Tecnologias Sociais e Centro de Tecnologias Sociais do Parque Tecnológico Itaipu (PTI).

Fonte:.Brandpress

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