quarta-feira, 10 de agosto de 2011

ADOLESCENTES E A DEPENDÊNCIA FÍSICA, COMPORTAMENTAL E PSICOLÓGICA DO CIGARRO




por Cláudia P. S. Nogueira 

Atualmente o tabagismo é amplamente reconhecido como uma doença, constituindo a maior causa isolada de adoecimentos e mortes precoces em todo o mundo, os quais podem ser evitados. A dependência da nicotina obriga os fumantes a se exporem a mais de 4700 substâncias tóxicas, sendo um fator causal de aproximadamente 50 doenças.
A dependência do cigarro é física, comportamental e psicológica, sendo que a dependência física é responsável pela síndrome de abstinência e a liberação de substâncias que dão sensação de bem-estar; a dependência comportamental apresenta-se na forma de condicionamentos, rituais e associações ao ato de fumar; e a dependência psicológica é responsável pela sensação de ter no cigarro um apoio para lidar com sentimentos de solidão, frustração, pressões sociais e tensões do dia a dia.
Na adolescência, por exemplo, ocorre a fase das dúvidas, das transformações e da necessidade de aceitar a si mesmo e de ser aceito pelos outros, e o cigarro é usado para superar esta fase conturbada. A maioria dos fumantes começa a fumar entre 13 e 16 anos, pois é neste período que muitos adolescentes começam a buscar no cigarro um apoio para momentos de dificuldade, para superar a timidez e conflitos de relacionamento, enfrentar as mudanças, pressões e exigências e, ainda, para buscar a própria independência ou pela simples imitação de comportamento.
Além disso, as empresas produtoras de tabaco para atingir seu público-alvo e garantir clientela, vendiam e vendem o cigarro a preços baixos, ocultando os verdadeiros males que este causa à saúde e, durante muitos anos, através de propagandas, anunciavam o cigarro como um meio de mostrar-se adulto e independente, associando à mulher fumante, atributos de beleza, charme, sensualidade e emancipação, bem como associando ao homem fumante, atributos como coragem, vigor físico, virilidade, sucesso e rebeldia, atributos estes tão valorizados na fase da adolescência.
Apesar da proibição destas propagandas esse conceito é muito forte e presente ainda nos dias de hoje e por isso o cigarro adquire na vida do adolescente o papel de ajudante, companheiro e amigo, quando na verdade impede o enfrentamento de conflitos através dos seus próprios recursos e dificulta o seu desenvolvimento e amadurecimento. 
O fumante acredita que suas habilidades estão vinculadas ao cigarro e que só realizará determinadas atividades com o auxílio dele. Na realidade, a habilidade é sua, mas por não saber distingui-la, atribui ao cigarro. Desta forma o fumante acredita que só pode criar se fumar, raciocinar se fumar e até manter relacionamentos somente se fumar e desenvolve rituais, associações e condicionamentos que são reforçados a cada cigarro que é aceso.
A cada tragada, em aproximadamente 10 segundos a nicotina chega ao cérebro e ativa os receptores da nicotina e imediatamente o cérebro libera as substâncias dopamina e seretonina, que dão sensação de prazer e relaxamento imediatos, promovendo a sensação de bem-estar.  Com o passar do tempo, o organismo aprende que, ao fumar, haverá sensação de bem-estar e prazer que reforçam comportamentos. Sempre que descobrimos prazer em determinado comportamento, passamos a repeti-lo espontaneamente.
O vício relacionado ao cigarro se instala de forma lenta e sorrateira, ao mesmo tempo em que ocorre perda do autocontrole, negação da dependência e a necessidade compulsiva, onde a pessoa que fumava um cigarro passa a fumar cinco, depois dez e quando percebe está fumando um maço por dia. Após aproximadamente seis meses fumando, o ciclo de dependência da nicotina já se instalou no cérebro e a dependência é física, comportamental e psicológica.
A dependência psicológica precisa ser tratada tanto quanto a dependência comportamental e física, por meio de técnicas que envolvem o estímulo ao autocontrole, para que o indivíduo possa aprender como escapar do ciclo vicioso da dependência e a tornar-se independente e agente de mudança de seu próprio comportamento.


Dra Claudia _ baixa.JPGSobre Cláudia P. S. Nogueira – Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). Trabalha, no SPA Sorocaba, tratando problemas de tabagismo, estresse, distúrbios do sono e síndrome do pânico.         

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